sábado, 17 de maio de 2014

Diga adeus ao capitalismo como nós conhecemos, diz autor de livro polêmico

O escritor Jeremy Rifkin gerou polêmica no mercado ao lançar o livro "The Zero Marginal Cost Society", que destaca que a evolução das máquinas irão mudar o conceito das relações sociais e podem destruir o capitalismo antes do fim do século XXI. Em artigo publicado na agência de notícias Market Watch, Rifkin destacou que o sistema colaborativo anuncia a entrada de um novo sistema econômico e ressalta que o sistema já está transformando a forma como organizamos a vida econômica - com profundas implicações para o futuro do capitalismo.

O gatilho para esta grande transformação econõmica é conhecido como custo marginal zero, que é o custo de produção de uma unidade adicional de um bem ou serviços após os custos fixos já terem sido absorvidos, explica o autor. As empresas têm buscado novas tecnologias que possam aumentar a produtividade e reduzir o custo marginal de produção e distribuição de bens e serviços, de forma a baixar os preços, conquistar consumidores e levar a maiores lucros para os seus investidores.

Rifkin ressalta que o fenômeno do custo marginal próximo a zero causou estragos principalmente no setor de informação, uma vez que os consumidores estão mais pró-ativos. Agora, eles produzem e compartilham a sua própria música através de serviços de compartilhamento de arquivos, os próprios conhecimentos na Wikipédia e os próprios vídeos no Youtube. Este movimento também balança a indústria cinematográfica, além de obrigar jornais e revistas a repensar os seus modelos de negócios.

Enquanto isso, seis milhões de estudantes nos EUA estão atualmente matriculados em cursos gratuitos que operam a um custo marginal quase zero que são ministradas por alguns dos professores mais ilustres do mundo, obrigando as universidades a repensar o seu modelo de negócios.

De acordo com o autor, os economistas reconhecem o impacto destas mudanças, mas têm argumentado até recentemente que ela não atingiria a indústria de bens e serviços. Mas ela atingiu até mesmo este setor.

E ressalta: uma nova e poderosa revolução tecnologia está evoluindo, o que permitirá a milhões - e logo centenas de milhões - de consumidores pró-ativos (ou "prosumers") para fazer e compartilhar a sua própria energia, além de uma crescente variedade de produtos e serviços físicos.

Em 2030, estima-se que haverá mais de 100 trilhões de sensores que ligam o ambiente humano e natural em uma rede inteligente distribuída globalmente. Os "prosumers" serão capazes de se conectar à chamada "Internet das coisas" e usar dados e análises para desenvolver algoritmos de previsão que podem acelerar a eficiência, aumentar dramaticamente a produtividade e reduzir o custo marginal de produção.

"Por exemplo, a maior parte da energia que usamos para aquecer as nossas casas e executar os nossos aparelhos, alimentar os nossos negócios, conduzir nossos veículos será gerada a um custo quase zero nas próximas décadas", ressalta o escritor.

A economia compartilhada centenas de milhões de pessoas estão transferindo fatias de sua vida econômica dos mercados capitalistas para um esquema de colaboração, afirma Rifkin. "Eles estão compartilhando carros, casas e até mesmo roupas uns com os outros através de sites de mídia social, aluguel, clubes de redistribuição e cooperativas, com custo marginal quase zero.

E esta tendência vem aumentando, afirma o autor, com 40% dos norte-americanos já fazendo parte da economia compartilhada colaborativa. Há exemplos para tal: atualmente cerca de 800 mil pessoas nos EUA estão usando serviços de compartilhamento de carro e "mais de um milhão de proprietários de imóveis estão compartilhando suas habitações com viajantes no país através de serviços on-line como Airbnb e Couchsurfing. O resultado é que "valor de troca" no mercado está sendo cada vez mais sendo substituído por "valor compartilhável", afirma.

Com isso, as empresas globais - que possuem fins lucrativos - deverão permanecer no mercado mas com um novo papel, principalmente como um agregador de serviços de rede e soluções. "O mercado capitalista, no entanto, já não será mais o árbitro exclusivo da vida econômica. Estamos entrando em um mundo além dos mercados onde estamos aprendendo a viver juntos através de uma cadeia colaborativa cada vez maior", conclui.

Fonte: artigo de Lara Rizério para a InfoMoney

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Momento ruim da economia está chegando ao fim, diz o economista


Quatro décadas de mercado financeiro, 63 anos de vida e cases bem-sucedidos na sua trajetória profissional, como o da Agora Corretora, dão a Álvaro Bandeira maturidade e serenidade para dizer que o momento ruim da economia, iniciado no último biênio, está chegando ao fim e que amanhã vai ser outro dia. E, como no samba de Chico Buarque, o sócio e economista-chefe da gestora de recursos Órama diz que, apesar do Governo Federal, o novo dia chega este ano e em 2015, na carona de um cenário internacional mais positivo, repetindo o ocorrido há pouco mais de dez anos. Para o especialista, o volume diário negociado na Bolsa brasileira (R$ 6 bilhões) é coisa do passado e deveria ser o dobro, para que o mercado cumpra seu papel de capitalizar empresas e viabilizar os investimentos tão necessários ao país.

O mercado financeiro não vive um bom momento. O senhor vê melhora no horizonte?

Eu até comparo este momento com um momento muito semelhante, para o meu gosto, que é o período de 2001, 2002, quando as economias estavam meio mal paradas, o mercado de capitais aqui estava muito mal parado. Não tinha liquidez nenhuma. E veio a grande expansão de PIB Global a partir de 2002 e 2003 e que durou até meados de 2007, quando começa o burburinho do subprime americano (a bolha imobiliária norte-americana). Mas a gente passou quatro, cinco anos de economia global velas ao vento.

Então, o senhor enxerga luz no fim do túnel. Quando e como isso se dará?

Eu vejo a economia global melhorando em 2014 e 2015. Então, um cenário global mais positivo, o que vai fazer com que nossos números não se deteriorem na velocidade que se deterioraram a partir de 2012 e 2013. Pelo contrário, pois até podem melhorar um pouco, porque a gente vai exportar mais. Os Estados Unidos vão crescer 3%, a China vai crescer seus 7,5%, o Japão vai crescer. Na Europa, alguns países já estão saindo da recessão para um crescimento um pouco mais à frente. Então, a gente vai pegar carona nisso.

Mais uma vez, a saída será pegar uma carona?

Nossos números melhoram não por políticas de governo e sim por uma conjuntura, um cenário global mais benigno. O Brasil precisa se adaptar a isso tudo para ganhar mais. Precisa dar um choque de confiança no empresariado local para investir, dar um choque de confiança para atrair investidores estrangeiros. O estrangeiro tem opção de investir no México, na Coreia, na China, na Turquia ou qualquer lugar no mundo. E só vai atrair esse cara se mostrar coisa legal, como infraestrutura. Tem que fazer políticas longevas. Se estou investindo em infraestrutura, em energia elétrica, temos que pensar em 30 anos.

Isso significa que o momento do país está distante do ideal?

Eu vejo a economia hoje meio desequilibrada. Os números brasileiros estão muito fracos ou em deterioração. Nada que seja grave. A gente não tem a inflação que vai fugir do controle. Nesse ponto, a presidente Dilma Roussef e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, estão certos. Não estamos falando em inflação de 6%, 6,5%, para, daqui a dois meses, estar falando de 10%, 12%. Não vai haver esse movimento. Mas inflação de 6,5% é muito alta.

Bem diferente da realidade de outros países.


Principalmente porque a gente está na contramão do resto do mundo. A preocupação do mundo hoje não é com a inflação; é com a inflação baixa, com a desinflação ou com a deflação. A inflação do Brasil não vai fugir ao controle. Provavelmente, os outros indicadores também não. O saldo da balança comercial, que foi o pior desde que é coletada a série, US$ 5,5 bilhões de déficit no quadrimestre, vai acabar melhorando. A gente não tem números tão ruins. A meta de superávit primário, de 1,9% do PIB, não agrada muito, mas também não é tão ruim. Deveria estar fazendo mais, a gente já fez mais de 3%. A questão é que tem que fazer melhor.

E qual o efeito disso?

Isso está desequilibrando a economia toda. Tem o marco regulatório do setor elétrico, as empresas estatais fazendo política pública, Petrobras segurando inflação, Eletrobras segurando energia, Banco do Brasil funcionando como autoridade monetária junto com Caixa Econômica para prover crédito de curto prazo. Está tudo meio torto com objetivo de se manter no poder.

Tudo isso tem custo e prazo.

Qualquer que seja o resultado da eleição, a gente não escapa de 2015. O país vai ter que voltar a fazer políticas públicas mais consistentes. Vai ter que mexer em política fiscal, vai ter que mexer em política tributária, vai ter que mexer no reordenamento político do país.

E haverá espaço para isso numa eventual reeleição da presidenta Dilma?

É mais difícil isso acontecer com a reeleição da presidente Dilma? Sem dúvida, porque é aquela história de que o hábito do cachimbo deixa a boca torta. Mas ela certamente tem que mudar muita coisa e vai mudar se for reeleita. Qualquer governo que entre, inclusive o dela, vai ter apoio para fazer as coisas corretamente. Tem tudo para fazer, mas, se vai fazer, é outra coisa. E na hipótese de entrar outro governo, pode tomar decisões com mais rapidez. Acho que 2014, 2015, 2016 podem ser anos melhores, independentemente de políticas de governo, porque a gente vai pegar carona no cenário benigno internacional.

O senhor fala na necessidade de investimento, mas o país está sem fôlego para investir. Qual é o papel do mercado financeiro nisso?

O país precisa de investidor estrangeiro para investir, porque a poupança interna não suporta o tamanho. Então, como é que eu atraio esse cara? Temos que mostrar infraestrutura, temos que mostrar que também estamos investindo corretamente. O mercado financeiro pode ajudar muito. O papel do mercado financeiro é capitalizar empresas para que elas invistam.

Mas a nossa Bolsa tem porte para assumir esse papel?

Não há de ser com a bolsa negociando R$ 5 bilhões, R$ 6 bilhões por dia que você vai conseguir capitalizar muita gente. Não há de ser com uma tributação de ganhos de capital de 15%, independentemente do prazo, que você vai atrair gente para o mercado de capitais.

E qual seria a alternativa?

Hoje, se eu compro uma ação e fico com ela por dez anos, sentado em cima, quando eu vender, eu vou pagar 15%. Se eu ficar um dia, eu pago 15% de imposto. Você não tem nenhuma regressividade no longo prazo como tem em renda fixa, por exemplo. Eu penso que alguém que compra uma ação e passa dez anos com ela não merece ser tributado, merece uma estátua em praça pública. Daí, eu passo dez anos com a ação, a inflação média de 6%. Então, tem quase 100% de inflação em cima desse meu preço e, se eu vendo por 100%, pago 15% sobre esse ganho. Isso é absolutamente cruel. Não estou querendo que reduza, não. Pode manter em 15% para quem ficar um ano, seis meses. Mas se estou querendo atrair gente, então, por que não fazer isso (taxação regressiva)?

E qual seria o tamanho desejável para a Bolsa hoje?

Esse volume de R$ 5 bilhões a R$ 7 bilhões já foi praticado há quatro, cinco anos. Então, a gente já deveria estar trabalhando com patamar de R$ 12 bilhões. E fazendo IPO, que tem muito a ver com a tendência dos próprios mercados. Se pegarmos 2001, 2002, quando começa a alavancagem, os IPOs começam em 2004, com a abertura de capital da Natura. De 2004 a 2007, a gente teve um boom de IPOs neste país, de as estruturas de underwriting dos grandes bancos não suportarem o volume de operações. O que acontece agora? Muita gente fazendo oferta de fechamento de capital, porque a gente tem uma fase de mercado muito ruim em 2012, 2013. Como você melhora? Quando você tem fluxo, expectativa e preço conveniente para abrir capital.

E o custo de abrir capital e mantê-lo aberto não é entrave?

Eu não acho que seja um custo muito alto para quem pretende ficar nesse mercado , para quem pretende usar esse mercado para se capitalizar, investir, se desenvolver, crescer. Você tem custo alto, mas se estender no longo prazo não é tão alto. A questão é a expectativa, colocar um dinheiro agora sem saber quando terá o retorno.

E as disputas entre minoritários e majoritários, empresas quebrando ou fechando capital. Isso não assusta o investidor?

Você está vendo empresa recém-lançada querendo fechar o capital novamente, porque perdeu liquidez. Primeiro, não entregaram os resultados prometidos. É fundamental que entreguem. Em muitos casos, investidores que perderam dinheiro também têm culpa. Tinha muita gente dizendo (sobre o Grupo X): olha, vamos acompanhar, não é bem assim, leia isso, leia aquilo. Mas a percepção do ganho fácil mobiliza as pessoas.

Fonte: entrevista realizada por Fábio Nascimento para o Brasil Econômico

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Brasil chega a 4 milhões de MEIs

Cinco anos após a criação da figura do microempreendedor individual (MEI), o Brasil atingiu, na semana passada, a marca de quatro milhões de pessoas enquadradas nessa categoria jurídica. A cada dia, cinco mil novos negócios surgem por meio da ferramenta.
Esses números mostram que a criação da figura do MEI teve um efeito positivo ao permitir que as pessoas ingressem no mercado formal e passem a desfrutar de uma série de benefícios, como destaca o pesquisador João Maria de Oliveira, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Oliveira, no entanto, alerta para um efeito colateral não tão positivo da medida. Segundo ele, muitos microempreendedores individuais são, na verdade, funcionários de outras empresas, o que indica que alguns podem estar usando a nova categoria jurídica para burlar leis trabalhistas.

Segundo o especialista, a figura do MEI foi criada justamente para ampliar a base formal da economia do país, o que foi conseguido por meio de alguns atrativos. “São três os fatores que hoje contribuem para tamanha adesão. Em primeiro lugar, é muito fácil se registrar nela. Com poucos minutos na frente do computador a pessoa já ganha um certificado provisório com CNPJ”, diz.

Além disso, Oliveira destaca que, ao permitir que as pessoas ingressem no mercado formal, a figura do MEI garante uma série de benefícios, como a possibilidade de adquirir uma máquina de cartão de crédito ou de obter crédito como uma empresa. No entanto, Oliveira destaca alguns pontos que ainda considera preocupantes.

“Ano passado, realizei uma pesquisa cruzando dados das MEIs com a Relação Anual de Informações Sociais (Rais), e constatei que quase metade desses microempreendedores estavam empregados, o que é um forte indício de precarização do trabalho por meio da MEI”, diz Oliveira. Segundo o pesquisador, ao contratar um funcionário como MEI, o empregador economiza, deixando de pagar os benefícios da CLT, e o trabalhador, apesar de ganhar um aumento ilusório, perde coberturas sociais como o 13º salário.

O pesquisador do Ipea também acredita que a MEI não pode ser um fim em si mesmo. Ou seja, não basta a pessoa entrar para a formalidade, é preciso que ela receba incentivos para crescer e evoluir para uma microempresa, por exemplo. “Segundo nossa pesquisa, isso aconteceu com menos de 3% das pessoas que se tornaram microempreendedores. É preciso que se invista mais em capacitação e formação. Existe crédito no mercado, mas ainda falta qualificar as pessoas para que elas saibam a melhor maneira de aplicá-lo”, encerra.

Fonte: Terra