quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

IFRS: vantagem para o Brasil, desafio para a contabilidade brasileira

Mudanças sempre provocam receios, dúvidas e questionamentos. Não foi diferente para os profissionais da contabilidade brasileira quando a Lei nº 11.638 foi promulgada, em 28 de dezembro de 2007, e percebeu-se a revolução que a adoção das Normas Internacionais de Contabilidade pelo Brasil traria para a profissão. Depois de sete anos tramitando no Congresso Nacional, a nova lei chegou para modificar a Lei nº 6.404/1976, conhecida como a Lei das S.A., determinando que as demonstrações contábeis de todas as empresas devem ser feitas com base no IFRS (International Financial Reporting Standard).



O Brasil passou a ser uma das nações que aderiram ao padrão contábil internacional, ao lado de países da União Europeia e da China, Rússia, Hong Kong, África do Sul e Austrália. O Brasil chega a 2011 com a previsão de crescer 4%, de acordo com informações do Banco Mundial. A instituição financeira elaborou um relatório sobre “Perspectivas Econômicas Globais” e um dos destaques é a afirmação que os países da América Latina, com especial atenção ao Brasil, saíram da crise econômica, iniciada em meados de 2008, e que ainda abala países da Europa e os Estados Unidos. Os dados positivos sobre o Brasil não param por aí. Em 2010, nosso País apresentou o melhor desempenho dos últimos 25 anos, com um crescimento na faixa dos 8%. O capital fixo, que representa investimentos em construção civil, máquinas e equipamentos, cresceu 20,2%.

Com uma economia em franco desenvolvimento, os olhos do mundo voltados para as oportunidades de negócios e o mercado em franca expansão, o Brasil não poderia deixar de dar um passo à frente também na contabilidade. Atualmente, o padrão IFRS é o mais aceito no mundo. Até mesmo os Estados Unidos, que têm como normas US Gaap (United States Generally Accepted Accounting Principles), aceitam o IFRS como padrão contábil. A adoção das normas internacionais alinha o Brasil com os mercados mais importantes do planeta, pois trazem em seu bojo os critérios de comparabilidade e a transparência que as empresas globalizadas exigem para aderir aos negócios.

Do mesmo modo, a tecnologia XBRL (Extensible Business Reporting Language) produz informações que podem ser reutilizadas em qualquer lugar do mundo. O Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) estão desenvolvendo esforços para implantá-lo no Brasil. Assim que a Lei nº 11.638/2007 foi divulgada, os profissionais da contabilidade, com boa dose de razão, passaram a questionar a validade de se adotar um padrão contábil que praticamente os obrigaria a “começar tudo de novo”.

Realmente, com o IFRS, a contabilidade brasileira ascende a um novo patamar, impele os profissionais a um novo ciclo de conhecimentos. Até mesmo as instituições de ensino devem começar a repensar e atualizar o currículo do curso de Ciências Contábeis. O Brasil jamais poderia deixar de oferecer a melhor qualidade nas informações, proporcionadas pelo IFRS, para as empresas que queiram investir no mercado nacional. Uma comunicação financeira uniforme atrai os negociadores, pois oferece confiabilidade, consistência e segurança.

A internacionalização dessa linguagem é tão importante que também a área pública passará a adotar as IFRS em 2012 para as demonstrações contábeis da União e dos Estados e em 2013 para os municípios. As demonstrações contábeis feitas de acordo com o IFRS auxiliam nas decisões gerenciais, colocando em destaque o trabalho dos profissionais contábeis, mostrando na prática como é importante uma comunicação internacionalmente aceita para o sucesso dos negócios. A adesão do Brasil às normas internacionais destaca o papel dos profissionais da contabilidade brasileira, fortalece e chancela a importância Conselho Federal de Contabilidade e da sua participação no Comitê de Pronunciamentos Contábeis.

O IFRS trouxe um novo alento para a área contábil, modernizando e realçando para os empresários, para os governos e para a sociedade o quanto é essencial, inovador e necessária a participação dos profissionais da contabilidade para o País e para o mundo. Será fácil assimilar tantos conceitos novos? Certamente não, mas os contabilistas já deram inúmeros exemplos de adaptação e de assimilação a conhecimentos novos e a exigências legais que se modificam quase que diariamente.
O Sistema CFC/CRC tem contribuído sobremaneira para a divulgação desses novos conceitos, organizando inúmeras atividades, como palestras, seminários e intervenções na mídia. Um trabalho com as instituições de ensino vem sendo feito também para que os currículos levem em conta a nova realidade da profissão.

Mais uma vez, a contabilidade brasileira poderá contar com os bravos profissionais da área, que nunca recuaram diante de desafios e sempre superaram dificuldades, assumindo novas tarefas, contribuindo para que o Brasil assuma seu papel de liderança no contexto das nações. Afinal de contas, se para as artes a música é a linguagem universal, para os negócios, a uma linguagem universal é a contabilidade.

Fonte: TI Inside
Autor: Domingos Orestes Chiomento, presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo (CRC-SP).